Depoimento de Francisco Campos

Há pouco tempo, na comemoração do 4° década de minha formatura, revi o discurso que fizemos (no qual tive boa participação) e ali encontrei o que era parte do discurso da esquerda: de alguma forma queríamos mais do mesmo, apenas funcionando melhor, uma boa saúde pública, um Inamps sem filas, uma população sem miséria. Reflito hoje no salto que demos, ao incorporar que era necessário um salto conceitual e que não bastava a melhoria daquele sistema de saúde fragmentado que tínhamos. Creio que a construção de um novo pensamento, que lia os conceitos do welfare state, que se remetia a exemplos europeus onde o direito à saúde não estava vinculado à contribuição pretérita para um sistema de previdência. Num trabalhoso estalar de dedos, nosso projeto mudou e passou a ser muito mais inclusivo, cidadão, civilizatório. Nos orgulhávamos em Montes Claros, nos anos 80 de constatar que qualquer pessoa era atendido sem se pedir uma carteira do Inamps. A liderança de Sérgio Arouca foi incontestável, ao lado de Cecília Donangelo, Eleutério Rodriguez Neto, Hésio Cordeiro e David Capistrano, entre muitos, para que avançássemos neste arcabouço conceitual que tem feito muito – ainda que reste muito a fazer – que esperamos que haja se enraizado na sociedade a tal ponto que não possa ser revertido na difícil conjuntura que vivemos.

Francisco Eduardo de Campos

Professor Titular Aposentado da UFMG

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